A DOR QUE DÓI MAIS |
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Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o
tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dói. Bater a cabeça na
quina da mesa, dói. Morder a língua, dói. Cólica, cárie e pedra no
rim também doem. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um irmão que
mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma
fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de
um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da
gente mesmo, que o tempo não perdoa. Dói essas saudades todas. Mas a
saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do
cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o escritório e ele para o dentista, mas sabiam-se
onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas
sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma
saudade que ninguém sabe como deter. |
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