A casa dos grandes pensadores A casa dos grandes pensadores

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POEMANDO
(Poemas de autores diversos)

EMBRIAGUÊS

Deve- se estar sempre bêbado.
É a única questão.
Afim de não se sentir o fardo horrível do tempo, que parte tuas espáduas e te dobra sobre a terra. É preciso te embriagares
sem trégua.

Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude?
A teu gosto mas embriaga-te.

E se alguma vez sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de uma vala, na sombria solidão de teu quarto, tu te encontras com a embriaguez já minorada ou finda, peça ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo aquilo que gira, a tudo aquilo que voa, a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo que fala, a tudo aquilo que geme. Pergunte que horas são.
E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, te responderão.

É hora de se embriagar !!!

Para não ser como os escravos martirizados do tempo, embriaga-te. Embriaga-te sem cessar.

De vinho, de poesia ou de virtude. A teu gosto...

(Charles Baudelaire)

 
 

TELHA DE VIDRO

Rachel de Queiroz

Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha...

A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.

Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida!

Rachel de Queiroz


DISPERSÃO

Sá Carneiro
 
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.
 
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida...
 
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
 
(O Domingo de Paris
Lembra-me o desaparecido
Que sentia comovido
Os Domingos de Paris:
 
Porque um domingo é família,
É bem-estar, é singeleza,
E os que olham a beleza
Não têm bem-estar nem família).
 
O pobre moço das ânsias...
u, sim, tu eras alguém!
E foi por isso também
Que te abismaste nas ânsias.
 
A grande ave dourada
Bateu asas para os céus,
Mas fechou-as saciada
Ao ver que ganhava os céus.
 
Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.
 
Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro —
Não me acho no que projeto.
 
Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.
 
Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida. 
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.
 
Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi... Mas recordo
 
A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.
 
(As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei. 
Ai, como eu tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei!...
 
E sinto que a minha morte —
Minha dispersão total —
Existe lá longe, ao norte,
Numa grande capital.
 
Vejo o meu último dia
Pintado em rolos de fumo,
E todo azul-de-agonia
Em sombra e além me sumo.
 
Ternura feita saudade,
Eu beijo as minhas mãos brancas...
Sou amor e piedade
Em face dessas mãos brancas...
 
Tristes mãos longas e lindas
Que eram feitas Pra se dar
Ninguém mas quis apertar
Tristes mãos longas e lindas
 
Eu tenho pena de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo?  UM rastro?... Ai de mim!,..
 
Desceu-me na alma o crepúsculo;
Eu fui alguém que passou.
Serei, mas já não me sou;
Não vivo, durmo o crepúsculo.
 
Álcool dum sono outonal
Me penetrou vagamente
A difundir-me dormente
Em urna bruma outonal.
 
Perdi a morte e a vida,
E, louco, não enlouqueço...
A hora foge vivida,
Eu sigo-a, mas permaneço,..
..................................
Castelos desmantelados,
Leões alados sem juba
......................................
Paris, maio, 1913

NÓS

Fazer de você a realidade dos meus sonhos acordados.

Pudesse eu no tempo-espaço
Parar o tempo, encurtar o espaço;
Tê-la junto a mim – corpo a corpo, num corpo só
E fazer de você o amor eterno,
A linha curva do universo que me atinge.
Pudesse eu, na amplitude dos meus desejos
Fazer de você a realidade dos meus sonhos acordados
Olhando sempre perto, sempre ávido de carinho,
Seus olhos em recíproca harmonia com meu ser.
Pudesse eu, enfeitiçá-la com a magia dos gregos
Ordenando-lhe uma prece diária de amor que jamais finda.

(Gevaert Trajano Castro)


 
Não sei quem é
Mario Benedetti
 
É provável que venha de muito longe
não sei quem é nem a onde vai
é só uma mulher que morre de amor
nota-se em suas pétalas de lua
em sua paciência de algodão/ em seus
lábios sem beijos ou outras cicatrizes/
nos olhos de oliva e penitência

esta mulher que morre de amor
e chora protegida pela chuva
sabe que não é amada nem nos sonhos/
leva nas mãos suas carícias virgens
que não encontraram pele onde pousar/
e/ com o passar do tempo/ sua luxuria
derrama-se em um pote de cinzas.
.

O POÇO
Poema de Pablo Neruda


Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profundezas da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.


ANNABEL LEE

Tradução de Fernando Pessoa.

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.

Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.

E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.

E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.

Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.


EU SEI MAS NÃO DEVIA
Marina Colasanti
 
Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias de água potável.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do  corpo.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

Nota: Este texto de Marina Colasanti (que foi grande amiga de Clarice) foi publicado em seu livro de mesmo nome (Eu sei, mas não devia - Ed. Rocco - Rio de Janeiro - 1996). Com este livro Marina conquistou um prêmio Jabuti.


Mude

Mas comece devagar, porque a direção
é mais importante que a velocidade.
Mude de caminho, ande por outras ruas,
observando os lugares por onde você passa.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Descubra novos horizontes.
 
Não faça do hábito um estilo de vida.

Ame a novidade.
Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método, o novo sabor,
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor.
Busque novos amigos, tente novos amores.
Faça novas relações.
Experimente a gostosura da surpresa.
Troque esse monte de medo por um pouco de vida.
Ame muito, cada vez mais, e de modos diferentes.
Troque de bolsa, de carteira, de malas, de atitude.

Mude.
Dê uma chance ao inesperado.
Abrace a gostosura da Surpresa.

Sonhe só o sonho certo e realize-o todo dia.

Lembre-se de que a Vida é uma só,
e decida-se por arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação, um trabalho mais prazeroso,
mais digno, mais humano.
Abra seu coração de dentro para fora.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.

Exagere na criatividade.
E aproveite para fazer uma viagem longa,
se possível sem destino.
Experimente coisas diferentes, troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você conhecerá coisas melhores e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, a energia, o entusiasmo.

Só o que está morto não muda !

Edson Marques.


Eduardo Alves da Costa

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

NOTA:

Estes versos fazem parte, desde 1968, quando foram escritos, de um longo poema do brasileiro Eduardo Alves da Costa, que nasceu em Niterói e vive desde a infância em São Paulo. Por algum motivo, foram logo atribuídos pelo escritor Roberto Freire, na epígrafe de um de seus livros, ao poeta russo Wladimir Maiakovski. O equívoco foi corrigido, mas a falsa autoria pegou: os versos foram transformados em pôster pelos líderes estudantis que combateram a ditadura militar, nos anos 70; transformados em inscrição da camiseta amarela da campanha pelas Diretas Já, nos anos 80: e, traduzidos para vários idiomas, transformados em corrente na Internet, nos anos 90. Aí, o autor já não era nem Eduardo nem Maiakóvski, mas Gabriel García Márquez, Bertolt Brecht, Wilhelm Reich e Leopold Senghor, entre outros.
Eduardo, poeta e artista plástico que já expôs na França na Alemanha, viu o poema impresso – e atribuído a Maiakóvski – na parede de uma galeria de arte em Paris e num café em Praga, na Tchecoslováquia. Recentemente, foi motivo de mais uma polêmica quando o autor de telenovelas Manoel Carlos colocou um de seus personagens declamando os conhecidos versos na novela “Mulheres Apaixonadas”, para 70 milhões de telespectadores. Uma crítica de TV deu nota zero para Manoel Carlos por ter dado a autoria correta: para a distraída jornalista, o autor ainda era... Maiakóvski.
O equívoco realimentou a polêmica: Manoel Carlos criou um diálogo, no capítulo seguinte, esclarecendo o erro – não dele, mas da jornalista – e contando a verdadeira história do poema. Milhares de telespectadores congestionaram os telefones da emissora perguntando onde encontrar o livro que contém o poema. Estava esgotado, mas Eduardo não teve dúvidas: procurou editoras interessadas em relançar sua obra, fora das livrarias há mais de 15 anos, e apenas uma – a Geração Editorial – aceitou o desafio de reeditá-la em duas semanas, a tempo de fazer o lançamento ainda dentro da novela – que terminaria no dia 10 de outubro.
É este livro, “No Caminho com Maiakóvski”, com todos os poemas de Eduardo Alves da Costa – a obra publicada até 1986 e os poemas inéditos – que chega agora às livrarias, com tiragem de 5.000 exemplares (significativa para livros de poesia) e todo o apoio do teledramaturgo Manoel Carlos e parte do elenco da novela, que se dispuseram a homenagear o autor na noite de autógrafos, dia 12 de outubro (um domingo) na Livraria Argumento, no Rio. Uma grande alegria para Eduardo, que, depois de quase 40 anos, vê seu poema mais famoso ser conhecido, de repente, por 70 milhões de pessoas.
A Geração Editorial – uma das editoras mais agressivas do mercado – pretende transformar a obra de Eduardo em um fenômeno de vendas.


PARA SER FELIZ

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num SPA cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo.
Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.
Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se.
Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.

Martha Medeiros


Poema de Victor Hugo, enviado por Rosangela_Aliberti
www.rosangelaliberti.recantodasletras.com.br

Voeu - VICTOR HUGO
Desejo, votos...

Si j'étais la feuille que roule
se eu fosse a folha que gira

L'aile tournoyante du vent,
a asa girando do vento,

Qui flotte sur l'eau qui s'écoule,
Que flutua na água que escorre,

Et qu'on suit de l'oeil en rêvant;
sonhando e seguindo com olhar;

Je me livrerais, fraîche encore,
Eu me libertaria ainda pura,

De la branche me détachant,
me soltando do ramo da planície,

Au zéphyr qui souffle à l'aurore,
O zéfiro que sopra na aurora

Au ruisseau qui vient du couchant.
O riacho que vem do poente

Plus loin que le fleuve, qui gronde,
mais distante do rio que ribomba,

Plus loin que les vastes forêts,
É mais distante do que as mais vastas florestas,

Plus loin que la gorge profonde,
É mais distante que a garganta profunda,

Je fuirais, je courrais, j'irais !
Eu fugirei, eu correrei, eu irei

Plus loin que l'antre de la louve,
Mais distante que o antro da loba

Plus loin que le bois des ramiers,
Mais longe que o bosque dos ramos secos

Plus loin que la plaine où l'on trouve
Mais distante da planície onde acho...

Une fontaine et trois palmiers;
Uma fonte e três palmeiras;

Par delà ces rocs qui répandent
além das rochas que se espalham

L'orage en torrent dans les blés,
A tempestade em torrente no campo de trigo,

Par delà ce lac morne, où pendent
Além deste lago morno ou pendente

Tant de buissons échevelés ;
Tanto as moitas descabeladas;

Plus loin que les terres arides
Distante das terras áridas.

Du chef maure au large ataghan,
Do chefe dos mouros do amplo ataghan

Dont le front pâle a plus de rides
cuja pálida testa tem rugas

Que la mer un jour d'ouragan.
Do mar num dia de furacão

Je franchirais comme la fleche
Eu alcançarei como uma flecha

L'étang d'Arta, mouvant miroir,
O açude d´Arta movimentando o espelho,

Et le mont dont la cime empêche
E o monte cujo o cume impede

Corinthe et Mykos de se voir.
Corintio e Mykos de se olhar.

Comme par un charme attirée,
como por um encanto atraído

Je m'arrêterais au matin
eu pararei de manhã

Sur Mykos, la ville carrée,
Sobre Mykos a vila quadrada

La ville aux coupoles d'étain.
A cidade com cúpulas de estanho

J'irais chez la fille du prêtre,
Eu irei na casa da filha do padre,

Chez la blanche fille à l'oeil noir,
e branca filha de olhos pretos

Qui le jour chante à sa fenêtre,
Que de dia canta na sua janela,

Et joue à sa porte le soir.
E brinca a sua porta a noite.

Enfin, pauvre feuille envolée,
Enfim pobre folha esvoaçada,

Je viendrais, au gré de mes voeux,
Eu voltarei aos desejos de meus votos,

Me poser sur son front, mêlée
Me colocar sobre sua fronte mesclada

Aux boucles de ses blonds cheveux;
Aos cachos de seus cabelos;

Comme une perruche au pied leste
Como um periquito fêmea com o pé ágil

Dans le blé jaune, ou bien encor
Dentro do trigo amarelo ou ainda

Comme, dans un jardin céleste,
Como dentro de um jardim celeste

Un fruit vert sur un arbre d'or.
Uma fruta verde sobre a árvore de ouro

Et là, sur sa tête qui penche,
E ai sobre a cabeça que se debruça

Je serais, fût-ce peu d'instants,
Eu serei por poucos instantes,

Plus fière que l'aigrette blanche
Mais soberbo que um penacho branco

Au front étoilé des sultans.
Na testa estrelada dos sultões.

Tradução: Françoise Palmucci Regdasinski

Victor Hugo (1802/1885)


Álvaro de Campos: (pseudônimo)
 
POEMA EM LINHA RETA  
 
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das  etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Florbela Espanca:
 
AMAR  
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais este e aquele, o outro e a toda gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar.
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que eu saiba me perder... pra me encontrar...  

Mario Lago
 
" Gosto e preciso de ti
mas quero logo explicar
não gosto porque preciso
preciso sim por gostar"  

Manoel Bandeira 

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.


Paulo Setúbal

De todas que me beijaram

de todas que me abraçaram,

já não me lembro, nem sei!

São tantas as que me amaram,

são tantas as que amei!

Mas tu (que rude contraste),

tu - que jamais me beijastes,

tu - que jamais abracei,

só tu nesta alma ficastes

de todas as que amei!


Casimiro de Abreu

"Eu via-a e minha alma antes de vê-la

sonhara-a linda como agora vi

nos puros olhos e na face bela

dos meus sonhos a virgem conheci

era a mesma expressão o mesmo rosto

os mesmos olhos só nadando em luz".


Bernardo Guimarães

"Mil duendes dos antros saíram

batucando e batendo matracas

E mil bruxas uivando surgiram 

cavalgando em compridas estacas 

Três diabos vestidos de roxo

se assentaram aos pés da rainha

e um deles que tinha o pé coxo

começou a tocar campainha

Campainha que toca é caveira

com badalo de casco de burro

que do meio da selva agoureira

vai fazendo medonho sussurro

a caldeira de sopa adubava

com o sangue de um velho morcego

que ali mesmo com as unhas sangrava

e o demônio com ar carrancudo

se ocupava em frigir na panela

o menino com tripas e tudo".


Luís de Camões

"Amor é um fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer

É  um não querer mais que bem querer

É um andar solitário entre a gente

É nunca contentar-se de contente

É um cuidar que ganha em se perder"


Fagundes Varella 

"Oh! diz-me que ainda posso

um dia de teus lábios beber o mel dos céus

que eu te direi, mulher dos meus amores

amar-te é ainda melhor do que ser Deus"


OUVIR ESTRELAS

“Ora (direis) ouvir estrelas. Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez, desperto

E abro as janelas, pálido de espanto.

(Olavo Bilac – Ouvir Estrelas).


O SONO DE UM ANJO

E rogo a Deus, enquanto a estrela brilha,  

Deus que protege a planta e a flor obscura,

E nos indica o futuro a trilha

Deus, por quem toda a criação se humilha,

Que tenha pena dessa criatura,

Desse botão de flor – que é minha filha.

(Luís Guimarães Júnior – O Sono de um Anjo, Sonetos Brasileiros).


FLOR DE BELEZA

-          Passa rápida a beleza,

-          Como flor que a natureza

-          Cria  em jardim melindroso

-          Ou num agreste torrão;

-          Passa como um som queixoso

-          Como felizes instantes,

-          Como as juras dos amantes,

-          Como extremo de paixão.

(Gonçalves Dias)


ESTIVAL

-          Acende-se o verão.

-          A selva é uma oficina,

-          Onde operando estão

-          Todos os elementos naturais;

-          E, ao violento calor das forjas estivais,

-          A cigarra buzina

-          Marcando as horas do descanso e ebulição.

      (Gilka Machado).


PENSAMENTO

... Gosto de olhar o céu pensando em ti...

Quem sabe? Talvez o fites no momento.

E assim, perdido entre as estrelas,

Encontrarás, Amor, meu pensamento...

(Georgette de Magalhães Muniz).


MARIA

-          Das flores do mês de maio,

-          A mais formosa é Maria,

-          Que os perfumes lá do céu,

-          Em catadupa, irradia.

(Georgette de Magalhães Muniz).


VIRGEM DAS SOMBRAS

Existe uma flor na mata

Que aparece à noite só:

Abre as pétalas de prata,

Se espaneja, se colora...

Mas, aos fulgores da aurora

Murcha, expira, faz-se pó.

(Castro Alves)


PELAS SOMBRAS

Senhor! A noite é brava... a praia é toda escolhos,

Ladram na escuridão das Circes as cadelas...

As lívidas marés atiram, a meus olhos,

Cadáveres que riem à face das estrelas!  

(Castro Alves)  


O Vôo do Gênio

“Não mais, ó Serafim! Suspende as asas!
Que, através das estrelas arrastado,
Meu ser arqueja louvo, deslumbrado,
Sobre as constelações e os céus azuis,
(Castro Alves)

 
Este inferno de amar
 
Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma...quem foi?
 
Esta chama que atenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há - de ela apagar?
 
Eu não sei, não lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
 
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?
Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
 
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus
Que fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...
 
Almeida Garrett

O amor entre as "metades de uma alma"
 
 ...Se o desejo de ser amado for mais forte
e você se prender a alguém com insistência,
ele se aborrecerá
e acabará se afastando de você.
 
O primeiro estágio do amor é a simpatia.
A simpatia aumenta e se torna apego,
e nesse estágio há sofrimentos e alegrias.
A alegria proveniente do amor-apego
vem sempre acompanhada de angústias e sofrimentos.
 
A alegria absoluta, que não vem acompanhada
de sofrimentos nem de angústias,
só será obtida quando o seu amor evoluir mais.
Só será obtida quando você abandonar o apego
e deixar o outro totalmente livre.
Quando você soltar o outro,
ele voltará a você espontaneamente,
com amor sincero,
porque ele, originalmente,
é a outra metade da sua alma.
De Masaharu Taniguchi, por Mary Sallum.

Luz.
 
Minha filha, meu sonho, meu carinho,
Amparo meu quando eu ficar velhinho,
Luz dos meus olhos, que serão sem luz.
(Adelmar Tavares)

Eu preciso
 
Eu preciso de
Uma suave mão para minha mão,
Um braço abraço para meu corpo,
Um rosto para meu sonho,
Uma terna alma para meu coração tristonho,
Um homem para meu desejo,
Mas, dentro de mim, há não.
 
Meu coração pulsa,
Treme.
No meu peito, treme meu coração tristonho
Ou o triste fim do sonho,
De saudades
Da criatura que se foi,
Fechando a porta sem dizer
"até já, amor, um beijo,
eu volto logo".
 
(Eliana Bittencourt Dumêt - Amar Pode Dar Certo)

O mais-que-perfeito
 
Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)
Ah, quem me dera ir-me!
 
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...
Ah, quem me dera amar-te!
 
Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais: cuidado...
Ah, quem me dera ver-te!
 
Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...
 
(Vinícius de Morais - Para Viver um Grande Amor)

ISMALIA

Quando Ismalia enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

(Alphonsus de Guimarães - Poeta mineiro)


Somos mil, somos uma
num infinito só;
pois, da matéria universal, em suma,
cada planeta é um átomo de pó!
 
(Augusto de Lima - Coro da esferas)

Se o casamento durasse
Semanas, meses fatais,
Talvez eu me abalançasse;
Mas toda a vida é demais!
(Afonso Celso)

Menina e moça! Como é doido o baile!
Como são várias da existência as cenas!
Ama-se o canto. - Se elas são as aves...
Ama-se a vida. - Se elas são falenas...
(Castro Alves - Menina e Moça)

Vamos meu anjo, fugindo,
A todos sempre sorrindo,
Bem longe nos ocultar,
Como boêmios errantes
Alegres e delirantes
Por toda parte a vagar
 
(Castro Alves - Sonhos de Boêmia)

Nos róseos lábios da mulher que se ama,
No seu contato de veludo e arminho,
Há mais embriaguez e maior chama
Do que em todos os ciatos de vinho
(Emiliano Perneta - Pena de Talião)

Amor, e que és tu sem lutas?
Sem circunstancias fatais?
Sem reveses, sem torturas,
Sem flagícios, sem cadeias
Que o homem transponha e quebre
Como o corcel quebra as peias?
 
(Fagundes Varela - Esperança)

O beijo...
é bem uma confissão,
que se segreda na boca
e se ouve no coração.
 
(Floriano de Lemos - Pecado e penitência)

Um aro tão pequenino,
Que, às vezes pesa demais...
Aliança, como és rara
No coração dos casais
(Georgette de Magalhães Muniz

Do amor na triste paixão,
Seja o motivo qual for,
Não há remédio melhor
Que a ilusão de outro amor.
(Georgette de Magalhães Muniz

 
Sussurro brando, dorido,
Do lábio exangue, a tremer...
Dizer "adeus!" quando se ama,
É quase, quase morrer...
(Georgette de Magalhães Muniz)

 
A tua boca... um mito...
Nem sei como direi,
É templo de mistério
Que nunca penetrei 
(Georgete de Magalhães Muniz)

Amor não sofre
Definição;
Sente-se o efeito
Dessa paixão;
Que rói no peito
O coração.
Senti-lo posso,
Dizê-lo, não.
É frio, é febre,
É um vulcão;
É tudo a um tempo
Sem confusão.
(Gonçalves de Magalhães - Que é amor?)

 
Dizem que se ama uma só vez na vida...
O amor, no entanto, para mim, parece
Taça espumante que, uma vez bebida,
se outra vez se beber, mais apetece.
(Humberto de Campos)

Sei que amor é sofrimento,
Custa a vida querer bem,
Mas custa o dobro da vida,
Na vida não Ter ninguém.
(Ibidem 57)
 

É nossa alma de criança,
Que nunca se sabe o que faz.
Quer tudo que não alcança,
Quando alcança, não quer mais...
(Ibidem 107)

 
O amor faz monossílabos; não gasta
o tempo com análises compridas;
nem é próprio de boca amante e casta
um chuveiro de frases estendidas;
um volver de olhos lânguidos nos basta
a conhecer as chamas comprimidas;
coração que discorre e faz estio
tem as chaves por dentro e está tranqüilo.
(Machado de Assis - Pálida Elvira)

 
"Ora (direis) ouvir estrelas. Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez, desperto
E abro as janelas, pálido de espanto.
(Olavo Bilac - ouvir estrelas)

 
Lábios feitos de mel, de rosas ao sereno,
De céu do amanhecer franjado e rosicler,
Entreabriu-os Satã, e, enchendo-os de veneno,
Sorriu. Tinha inventado o beijo da mulher.
 
(Vicente de Carvalho - Luizinha)

 
O beijo, dado escondido,
Toma do crime a feição;
Pode fartar o desejo,
Mas não farta o coração.
 
(Visconde de pedra branca - O Beijo)

 

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