- A mulher na ótica pedagógica e
filosófica
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- Uma mulher foi a autora do primeiro romance literário de
todos os tempos. Murasaki
- Shibiku, uma japonesa da classe nobre, escreveu no ano
1007 um livro chamado “A história
- de Genji”, contando a história de um príncipe em busca
de amor e sabedoria.
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- Jan Amos Comenius (1592-1670).
Professor, cientista e escritor checo.
- René Descartes (1596-1650).
Filósofo, físico e matemático francês.
- Voltaire - François-Marie
Arouet (1694-1778). Poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo e
historiador iluminista francês.
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- Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778). Filósofo suíço, escritor, teórico político e um
compositor musical autodidata.
- Emanuel Kant (1724-1804).
Filósofo alemão. Grande filósofo dos princípios da era
moderna, indiscutivelmente um dos seus pensadores mais
influentes.
- Arthur Schopenhauer
(1788-1860). Foi um filósofo alemão do século XIX da corrente
irracionalista.
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- Augusto Comte (1798-1857).
Filósofo francês, pai da Sociologia e fundador do Positivismo.
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- O professor Comenius, o mais
antigo dentre esses pensadores, diz que a instrução da mulher
deve servir para ela “administrar bem a casa e para promover
seu próprio bem, o do marido, dos filhos e de toda a família”.
- Ele valoriza o trabalho das
mães, sobre o qual escreve um tratado – o Guia da escola
materna. Nele destaca o papel das mães, não só delas mas
também das amas, no processo pedagógico.
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- Comenius defendeu a presença
de toda a juventude, de ambos os sexos, na escola.
Particularmente sobre o sexo feminino fez, na verdade, uma
magistral defesa da mulher, num século onde isso seria
praticamente impossível de se pensar, em face do machismo
predominante na época: “Ninguém deve ser excluído da
instrução, a não ser aqueles a quem Deus negou sentidos ou
inteligência. Tampouco se pode aduzir qualquer motivo válido
para excluir o sexo frágil dos estudos da sabedoria. As
mulheres, também são dotadas de inteligência aguçada e aptas
ao saber; também para elas, como para os homens, estão abertas
as portas de postos elevados, porque muitas vezes foram
destinadas por Deus ao governo dos povos, a aconselhar
sabiamente reis e príncipes, à ciência médica e às outras
ciências úteis ao gênero humano, bem como ao dom da profecia e
a censurar sacerdotes e bispos. Por que então permitimos que
se alfabetizem e depois as afastamos dos livros? Temos medo da
sua falta de reflexão? Mas quanto mais ocupada estiver a mente
menor será o espaço destinado à imprudência, que nasce de
mentes vazias”.
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- Descartes, filósofo,
contemporâneo do professor Comenius, surge, na Modernidade,
com o ideal de ciência e uma expectativa de se dominar o
mundo pela razão, pelo pensamento. Apesar de dizer que as
mulheres eram mais aptas para a filosofia que os homens, a
herança da filosofia de Descartes moldou a subordinação da
natureza e da mulher à vontade do homem.
- A primeira mulher a ter
trabalhado e escrito algum texto em Matemática foi a grega
Hipatia. Hipatia foi acusada de aconselhar Orestes a não se
reconciliar com Cirilo e o seu fim foi trágico e triste. Após
Hipatia existe um vazio de doze séculos onde o nome de nenhuma
mulher matemática é registrado.
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- Voltaire, cem anos depois de
Comenius, mesmo negando às mulheres as invenções e lhes
reservando os trabalhos domésticos mais leves, devido a sua
frágil compleição, afirma que este parece ser o único motivo
que pode explicar a superioridade dos homens nos Estados. Diz
que a condição inferior da mulher pode não ser resultado de
uma condição inferior essencial, mas sim de um abuso de uma
diferença natural.
- Como, no entendimento
“musculoso” do filósofo Voltaire, “o físico governa sempre o
moral”, a constituição física dos homens garante a eles o
poder da força estabelecedora das leis e governadora do mundo
moral. A condição inferior da mulher se apresenta como
resultado do poder físico masculino que acaba por governar
todos os âmbitos da vida.
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- O filósofo Rousseau, mais de
cem anos depois de Comenius e Descartes, defende a
legitimação da exclusão da instrução da mulher com base nas
tradições cristãs e diz, ainda, que “a mulher de cultura é uma
praga para o marido, para os filhos, para a família, para os
criados, enfim, para todos”. Afirmou, também, que os homens
necessitavam de uma mulher no lar para cuidar de tarefas que
somente ela poderia assumir.
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- O pensamento misógino de
Rousseau se expressa claramente quando justifica um modelo de
educação diferenciada segundo o sexo, argumentando: “uma vez
que se demonstrou que o homem e a mulher não são e nem devem
ser constituídos da mesma maneira, nem quanto ao caráter, nem
quanto ao temperamento, segue-se que não devem ter a mesma
educação”.
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- É na exclusão das mulheres de
uma educação baseada na razão que o filósofo Rousseau assenta
as bases da soberania masculina, que se reflete em todas as
esferas da sociedade. A fronteira da razão em Rousseau passou
a ser determinante e determinada pela divisão sexual de papéis
sociais. Para ele, lugar de mulher não é no mundo científico,
e sim em casa, submissa ao marido enquanto que o homem deve
ser o herdeiro legítimo dos legados científicos e,
referindo-se à instrução das moças, afirma que pudor, recato e
ignorância sexual por parte da mulher são essenciais para
sustentar a virilidade do marido.
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- Por outro lado, o peso das
mulheres na constituição da República das Letras é testificado
pela freqüência com a que o próprio Rousseau faz referência à
gravitação das mulheres no mundo intelectual de seu tempo.
Pesa sobre ele e o seu radicalismo, a suspeita de que a mulher
haja se refugiado na vida privada, sob a forma de
argumentações biologicistas, devido a desigualdade e a
expulsão do espaço público.
- Segundo o filósofo Rousseau a
mulher é feita especialmente para agradar ao homem, ser-lhe
útil, fazer-se amada e estimada; educar o homem quando jovem,
cuidá-lo quando adulto, consolá-lo, fazer-lhe a vida agradável
e doce. Sua missão na vida é fazer grandes homens e que, ser
mulher, para ele, é ter uma condição esquizofrenizante, pela
dicotomia entre ser santa e tentadora. E, ainda mais, que os
deveres femininos de todas as épocas deveriam ser ensinados às
meninas desde a mais tenra idade.
- Essa foi uma forma de educação
da mulher que perdurou por muito tempo e em diferentes
sociedades.
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- O pensamento pedagógico e
filosófico de Rousseau prega a liberdade masculina e a
sujeição feminina. Rousseau aconselha incentivar nos meninos a
livre iniciativa e a espontaneidade e insiste na contínua
repressão dos impulsos das meninas para acostumá-las à
obediência e às tarefas do âmbito doméstico.
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- Na afirmação filosófica de
Rousseau, a mulher mantém-se perpetuamente na infância; ela é
incapaz de ver tudo o que lhe é exterior ao mundo fechado da
domesticidade que a natureza lhe legou, e daí resulta que ela
não pode praticar as ciências exatas.
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- Rousseau vê a mulher como
destinada ao casamento e à maternidade mas, apesar de suas
convicções misóginas, não conseguia desejar uma mulher
- escravizada.
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- Acredita Rousseau que o homem
depende da mulher através somente do desejo, enquanto que a
mulher depende do homem tanto por seus desejos quanto por suas
necessidades de forma geral e afirma: “subsistiríamos melhor
sem elas do que elas sem nós”. O filósofo justifica com
clareza uma educação feminina não só diferente, mas oposta à
educação dos homens.
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- O filósofo Emmanuel Kant, na
sua perspectiva, mesmo sendo da mesma época do filósofo
Rousseau e, demonstrando ter aprendido algo com Comenius,
acredita que “a mulher compreende o que quer que seja por meio
de sensações e que elas devem permanecer o mais próximo
possível do comportamento do seu sexo”. Como é o conhecimento
empírico que elege os belos pilares, então, o ensino frio e
especulativo parece pouco contribuir para a instrução da
mulher. Para Kant, a instrução mais apropriada para o gênero
feminino depende de um instrutor talentoso, experiente e capaz
de transmitir sentimentos. Na falta deste, a mulher não
somente pode, mas deve educar-se por conta própria, já que
desempenha tal função com admirável destreza.
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- Kant determina o conhecimento
que a mulher deve ter ao afirmar: “a mulher não deve aprender
nada de geometria; do princípio da razão suficiente ou das
mônadas só saberá o indispensável para entender a graça das
poesias humorísticas”. E especifica exatamente o campo
restrito do aprendizado feminino: “O conteúdo da grande
ciência da mulher é preferencialmente o humano, e no humano, o
homem e sua filosofia não consiste em raciocinar, mas em
sentir”. Do universo, igualmente, só precisam conhecer o
necessário para tornar comovedor o espetáculo do céu numa
noite bonita.
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- Kant diz que a natureza
feminina é determinada através da categoria do belo. Para ele
encontram-se no caráter espiritual os traços determinantes da
mulher, visto que elas tendem a exprimir um forte sentimento
inato por tudo que é portador de beleza.
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- O filósofo Kant pregava: “A
uma mulher que tenha a cabeça entulhada de grego, ou que trave
disputas profundas sobre mecânica, só pode mesmo faltar uma
barba, pois com essa talvez consiga exprimir melhor o grau de
profundidade a que aspira”.
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- O filósofo Schopenhauer diz
que "O simples aspecto da mulher revela que não é destinada
nem aos grandes trabalhos intelectuais nem aos grandes
trabalhos materiais. Conservam-se a vida toda umas crianças
grandes, uma espécie de intermediárias entre a criança e o
homem. A natureza, recusando-lhes a força, deu-lhes a astúcia
para lhes proteger a fraqueza: de onde resultam a instintiva
velhacaria e a invencível tendência à simulação do sexo
feminino" e mais, que "a mulher é um animal de cabelos longos
e idéias curtas”. E continua o filósofo Schopenhauer: “A
natureza deu à mulher para se defender apenas a dissimulação.
Esta faculdade supre a força que o homem tira do vigor de seus
músculos e de sua inteligência". E mais ainda, do filósofo:
“Mulher é raça de estatura meã, ombros estreitos, ancas
largas e idéias curtas”.
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- Os Positivistas, assentados na
teoria do filósofo Comte, duzentos anos depois e seguindo
restritivamente o pensamento de Comenius com relação a
instrução da mulher, só admitiam a instrução feminina a fim de
que a mulher pudesse bem desempenhar seu papel de mãe. A
produção cultural objetiva das mulheres tinha por função
atender aos interesses dos homens. Consideravam que a
sociedade era formada apenas por homens, visto que a mulher em
nada contribuía para a elevação da humanidade, já que estaria
sempre “condenada à inferioridade pelas leis irrevogáveis da
natureza”.
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- Em oposição aos seus
contemporâneos socialistas utópicos que buscavam igualdade
sexual, o filósofo Comte declarou que o único tipo de família
que poderia servir como base para a sociedade se reduzia a
“duas ordens de relação – isto é, a subordinação dos sexos que
institui a família, e a ordem de relação das gerações que a
mantém”. Reconheceu que as condições do casamento sempre
permaneceriam hierárquicas já que o princípio fundamental da
instituição casamento é a subordinação natural das mulheres.
Ele enfatizou, ainda, que “a sociologia provará que a
igualdade dos sexos é incompatível com toda existência
social”, e mostrou que “cada sexo tem funções especiais e
permanentes desempenhadas na economia natural da família
humana”.
- A diferença e a desigualdade
sexual, na teoria do filósofo Comte sugere que ele se referia
ao sexo masculino, mesmo quando parecia falar sobre
“indivíduos” sem fazer referência ao gênero. Para ele
“atividade especulativa espontânea” era a principal
característica que separava “Homem” de “animais inferiores” e,
por isso enfatizou a “inferioridade relativa da mulher”, como
se a mulher fosse animal inferior, considerando isto como
“trabalho mental”.
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- Johann Carl
Friedrich Gauss (1777-1855) não foi filósofo nem pedagogo. Foi
um famoso matemático, como Descartes, astrônomo e físico
alemão. Era conhecido como o “príncipe dos matemáticos”.
Muitos consideram Gauss o maior gênio da história da
Matemática. Seu QI foi estimado em cerca de 240. Gauss nasceu
num casebre em Braunschweig. Seu pai, severo e brutal, era
jardineiro e pedreiro e tudo fez para impedir que seu filho
desenvolvesse seu grande potencial. Não conseguiu. Gauss
reconhece o valor das mulheres e lhes faz justiça quando, numa
carta a Sophie Germain, referindo-se ao trabalho dela,
escreveu: “Mas quando uma pessoa pertencente ao sexo do qual,
de acordo com nossos costumes e preconceitos, é forçada a
enfrentar infinitamente mais dificuldades do que os homens
para familiarizar-se com essas pesquisas dificílimas, e
consegue com êxito, penetrar nas partes mais obscuras delas,
não obstante, se para isso tenha de superar todas as barreiras
existentes, então essa pessoa tem necessariamente, a mais
nobre coragem, os mais extraordinários talentos e uma
genialidade superior.”
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- Antonio Carlos Fernandes é
advogado e pós-graduando em psicopedagogia social
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