História, natureza e felicidades repentinas
Por: Jorge Luiz da Silva Alves
Das mansardas, casarões e choupanas tão condignamente erigidos no faustoso período das mulas abarrotadas, provenientes da intendência das minas, apenas ficou o olor edificante da madeira dos dosséis transmutados em corrimões e pisos; do burburinho saudável de nobres, escravos e comerciantes a entorpecer o ar das vielas e paços ficara apenas a lembrança, toda vez que notáveis da escrita aquém e além mar reúnem-se para suas tertúlias globalizantes; do furtivo prazer das mucamas e capatazes, dos sinhôs e caboclas, cunhãs e malês pelos becos e recônditos d'igrejas, restaram os murmúrios dos casais veranicos nas pousadas e perdidos balneários espalhados pelo belíssimo trecho de litoral atlântico... Dos agitos, estresses e correrias duma tenebrosa semana de pagamento ficou tudo para além da verdejante hévea sul-fluminense, pois me deu uma louca, te apanhei no serviço e fugimos feito dois loucos para o paraíso paratiense; entramos, pagamos adiantado, despimo-nos e mergulhamos fundo na noite dos maravilhosos eflúvios, onde longa e saborosa interação de corpos e almas aconteceu, com a magnífica lua testemunhando tudo da sacada arreganhada...
...manhã violando-nos, lasciva e tonificante janela adentro, nu na sacada defronte à deserta ruela, senti-me um corsário francês despertando após o saque proveitoso das vontades; vitoriosa e esguia, Xica da Silva agarra Duguay-Troin retomando-me para mais uma rodada de liberdade e loucura; quando nem a rotina, nem o passado soberbo em barroca glória ou a vicejante mãe-natureza não foram capazes de unir forças para demover-nos de nossa insaciável fome de felicidade!
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