CLICHÊ (QUASE) SOCIAL
Por: Odion de Oliveira Monte
Se me veres assim descalço, com os pés sujos;
E de mim não se compadeces...
É porque o teu mocassim,
Protege e mantém os teus limpos e macios;
Minhas vestes trapilhas, como uma velha colcha de retalhos,
Deixa-me passar frio, e isso não te incomodas...
É porque o calor do teu cetim aquece-te, nas noites frias...
Minha barriga seca, como um poço sem água,
Não te faz tropeçar e cair...
É porque a tua, vive ansiada, como um balão prestes a estourar...
Se vivo no sol abrasador, na chuva, sem teto e onde dormir...
E roncas a noite inteira, sem se preocupar comigo!
É porque o teu telhado, e a tua cama macia te acolhe sempre...
Se não suporto mais o cansaço, e a tristeza do meu viver...
E mesmo assim, ainda vives sentado e sorrindo...
É porque a tua espreguiçadeira, te faz repousar sempre...
E se mesmo me olhando, não consegues me ver...
É porque tua retina não enxerga a cor de minha pele...
Mas uma coisa te garanto. O fluído que te faz viver
É tão vermelho quanto o meu...
E se tens dúvida, a navalha em minhas mãos, pode te provar isto...
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