Que homem é esse? Homenagem aos médicos
Por: João Márcio F. Cruz
Nessa época, eu trabalhava na Unidade de Saúde da Família do Capitão Pedro Sampaio, em Canindé-CE.
Era um dia triste para aquela comunidade porque o Dr. Amorim, um médico jovem e humanitário, estava despedindo-se.
Cada profissional trouxe um "presente" de agradecimento.
Eu aproveitei o ensejo e escrevi o texto abaixo.
Depois, imprimi e entreguei-lhe em mãos.
Ele agradeceu e nunca mais o vi.
O texto dizia o seguinte:
Que homem é esse?!
Quem era aquele estranho homem?
Foi embora sem dizer seu nome, sem cobrar pela benções que nos deixou?!
Ensinou nosso coração a bater no ritmo da vida quando ele andava descompassado e beirando o suicídio. Calibrou a pressão, para lidar com a má impressão do mundo. Deu mobilidade aos meus ossos carcomidos pelo tempo e a idade. Seu olhar pousava com carinho sobre nossas doenças. Sua mão deslizava com atenção sobre nosso sofrimento. Antigamente ele vestia-se de branco, hoje trajado de solidariedade, refletia o sol em seu ofício.
De casa em casa, transformando ruas, bairros, cidades numa mesma família. Não precisava falar, ou utilizar sermões, apenas sua presença já trazia consolo. Ele não tinha porções mágicas além do líquido milagroso do seu suor convertido em trabalho; Não sabia feitiços ou rituais mas exorcizava depressões e hipertensões com seu cuidado e sua atenção; Seu aperto de mão transmitia coragem;
Que tipo de homem era aquele?
Capaz de deixar, em pouco espaço de tempo, um rastro de esperança com cheiro de saudade?!
Sei que ele veio de longe. Vencendo a distância, a saudade e a solidão, chegou até nossas portas trazendo promessas de um vida melhor. Nossa rua tem mais cores, depois que ele passou por aqui, nossas crianças voltaram a brincar, nossos velhos recuperaram a vontade de viver, nossos jovens voltaram a sonhar, nossa família voltou a reunir-se em torno da ceia, e dessa vez, em vês dos remédios, tínhamos abraços e afetos, alegria e ovação.
Ele plantou uma semente. A semente de um mundo melhor, mais justo, mais humano, mais saudável. Honrou seu juramento, foi leal com Hipócrates. Mas há um tempo de chegar, e um tempo de partir. Há um tempo de dizer olá, e um tempo de dizer adeus...Seu tempo entre nós acabou..
Siga seu caminho anjo de Deus, plantando saúde por essas estradas da vida, lutando para não deixar o olhar esmaecer, a chama se apagar, a fé perecer, o amor silenciar.
João Márcio F. Cruz
Bacharel em letras
Licenciado em latim, grego, inglês e literatura
Palestrante e escritor, autor do livro Espelhos da vida
e Os Quatro Pilares da Educação
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