O POVO - A meretriz jurídica
Por: João Márcio F. Cruz
A meretriz jurídica
Tu és uma prostituta que se vende a pão e circo. Oh povo, de nobreza nada possuis. Idolatras os discursos vis pelo pedigree do partido. Envergonho-me de fazer parte dessa sociedade. Covardes, medíocres e alienados. Conformam-se com esmolas quando o salário é teu por direito. Preferes a companhia dos bajuladores á dos profetas que removem o véu da ignorância anunciando verdades eternas. Elege como teu senhor, escravos dos vícios morais e espirituais, enquanto escraviza trabalhadores honestos e pais de família decentes. Teu preço é ouro, incenso e mirra. Seu choro é lamento podre de quem perdeu o direito de tiranizar as consciências. Tua força surge do amontoado, porque nunca foste unidos em nome de um ideal.
A bebida, o cigarro, a mídia, a droga, o sexo e a ilusão são teus canais de diversão mórbido. És tão entorpecido que apenas emoções fortes tocam seu coração. Levanta-te filho da ignorância e adquire caráter de homem! Como podes aceitar, durante séculos, a servidão voluntária quando até os asnos coiceiam quando ofendidos? Tu és cego por condicionamento social. Tu és surdo por arrogância! Tu és mudo por conveniência. Como é triste o teu passo. Seguindo cabisbaixo, em genuflexões, louvando a coroa de espinhos que lhe colocaram. Porque não bradas ao vento, ao norte, para as estrelas?
Quem sabe alguém escute teu lamento e deixe a morte levá-lo dessa vida descontente. Teus amigos são sombras de gente. Pedaços mal colhidos de lições pendentes do pretérito. O planeta continua sua rotação e você aprisionado em correntes que lhe prometem a liberdade. Por que não assume seu fracasso, pede auxílio ou ensaio resmungos sutis de sua situação? Será que perdestes a faculdade de indignar-se? Será que o mundo roubou sua voz? Estuprou sua alma, transformada em mercadoria e vendida em jornais, filmes e novelas, como uma bijuteria reciclável?
O esgoto seria melhor seu lugar. A companhia dos ratos não te traria incômodo algum. Desde o dia que nasce, até hoje, vestiu a carcaça dos urubus e assumiu a condição de indigente, criatura subumana, cheia de deveres mas sem nenhum direito. A ti, chamam de povo!!! Juridicamente constituída pela lei para ser o bode expiatório dos problemas mundiais. Porém, além desse ônus injusto, ainda introjetas a visão alheia e assume o hálito da derrota, o passo vacilante, a alma de um vagabundo, sem sonhos, sem futuro, sem coração. Você não pediu para nascer mas podes escolher, a qualquer momento, como viver, como morrer. Se o amor não arrancar essa crosta pútrida dos séculos sedimentada sobre tua delgada alma, quem sabe a dor, o sofrimento, a traição seja teu mestre, indispensável para devolvê-lo a condição de ser humano, sujeito de sua vida, senhor de seu destino.
Bel. João Márcio F. Cruz
Autor do livro Os Quatro Pilares da Educação
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