A TERRA QUE UM DIA FOI NOSSA
Por: Tolentino e Silva
“Tu visitas a terra, irrigando-a e enriquecendo-a copiosamente; com o ribeiro divino, cheio de água, preparas os trigais. Assim a preparas; rega seus sulcos, nivela suas glebas, com chuvas a amoleces, abençoa o crescimento”. (Sl 65, 10-11).
É difícil para o cristão de hoje entender tanta bondade, tanta bênção provindas de Deus, precedidas de tantas gerações, serem exploradas de forma especulativa, que visa apenas os lucros e crescimentos financeiros de uma pequena parcela da sociedade. Somos milhões de seres humanos espalhados por todo o cosmo, e alguns milhões tiram proveito, de forma desonesta, de tudo que a terra produz, sem levar em consideração o que o salmo supracitado nos afirma. Deus deixou a terra para todos. Ele não disse que apenas os grandes a dominariam e os pequenos seriam seus escravos pra nela trabalharem. O que vemos, hoje, são os pequenos, os humildes deixando suas pequenas propriedades e se aglomerando nas capitais, passando por dificuldades e humilhações. Eles, herdeiros de famílias tradicionais, que viveram toda sua vida dos frutos que naturalmente a terra lhes oferecia, são praticamente enxotados das mesmas, sob pressão de latifundiários que querem apenas invadir e tomar posse das terras com suas poderosas máquinas, mesmo danificando o meio ambiente, para o plantio de grãos apenas para exportação. Os danos são irreparáveis tanto para as famílias, quanto para o meio ambiente. Latifundiários ou exportadores (agronegócio), não querem saber se vão ou não causar danos ambientais. Para eles o que importa é o lucro, a fama. Do outro lado está a inoperância do Estado, que não administra nem protege os bens naturais que são de todos, faz vista grossa aos danos e muitas vezes é conivente com os estragos, através de concessões de exploração. Exemplo disso é a exploração exagerada do minério de ferro e outros minerais, além das barragens, que obrigam as famílias tradicionais a se mudarem do seu habitat. Tirar um indivíduo, “na marra” daquele conjunto de fatores físicos em que está acostumado a viver, desconsiderar o conjunto de fatores geográficos e condições relativas à sua moradia, sua forma, espécie e localização, é como sacrificá-lo, mesmo que indiretamente, assim como fizeram com dezenas de etnias (ex: “Botocudos” do tronco macro-Jê, que viviam no sul da Bahia, leste de Minas Gerais e Espírito Santo). É o mesmo que dizimar essas comunidades.
Diante desse fato, Jesus deixa um grande ensinamento, ao mesmo tempo que adverte:
“Não ajunteis riquezas na terra, onde a traça e a ferrugem as corroem, e os ladrões assaltam e roubam. Ajunteis riquezas no céu onde nem ferrugem as corroem, onde os ladrões não arrombam nem roubam. Pois onde estiver o seu tesouro, ali estará o seu coração”. (Mt 6, 19-21).
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