CABOU O PÓ! (Regionalismo mineiro)
Por: Tolentino e Silva
Dona Toinha levantava cedinho, pra coar o café.
Certo dia, acendeu o fogo, atiçou a lenha, colocou água na chaleira, um taco de rapadura e esperava ferver. Enquanto isso, pegou uma cuia com água, respingou o chão, pra baixar a poeira, passou a mão numa vassoura e começou a varrer o local. Vez em quando, se aproximava da fornalha, para ver se a água estava fervendo. Certificando-se de que a mesma estava no ponto de coar o café, dirigiu-se à uma pequena prateleira, próxima. Quando abriu a lata de pó, espantada exclamou:
- Uai! Cadê o pó!
Havia acabado.
- Diacho! As minina num torraro nem socaro, onte, o café!
Ela se lembrou que as filhas haviam ido à rua (centro da cidadezinha) e chegaram tarde, não dando tempo para adiantar o que fariam no dia seguinte, como de costume.
- O jeito é amolá a cumade Rita!
Passou a mão num caneco esmaltado e foi às pressas, à casa da vizinha.
Bateu à porta, e sapateando de um lado para o outro, gritou:
- Cumade Rita, ô cumade Rita. Acode eu aqui, minha fia!
- O que foi cumade Toinha? Que gunia é essa?
- Nem te conto, cumade!
- Conta, cumade! Quequiconteceu?
- Num é cas minina foi onte na rua e num deu tempo dés torrá e socá o café pra mode cuá hoje! Pió é que o Jacinto tem qui í pru roçado e num pode í sem o trijijum!
- Craro, craro! Né purisso que cumpade Jacinto vai morrê, né cumade Toinha!
- Credo, cumade, vira essa boca pra lá!
- Me dá a caneca aí, vai!
Passou a mão no copo, foi à cozinha, encheu de pó, até à boca e trouxe pra dona Toinha, que agoniada, esperava a cumade Rita. De posse do copo com o café, agradeceu dizendo:
- Deus omenta, purinconto, viu cumade Rita. Cê saivou eu. Vou correno fazê o café pra mode Jacinto í trabaiá. Ora que nós torrá e socá o nosso, eu venho devoivê. Tá bão?
- Que devoivê que nada, cumade Toinha. Nós véve é pra judá unzonzoto memo!
Deus companha ocê e inteloguim!
Atualizado: 26/02/2022
|