A privatização que parou São Paulo
Por: JOSE ROBERTO TAKEO ICHIHARA
O que fazer quando os fatos não convencem?
O temporal que atingiu São Paulo na última sexta-feira (03/11/23) provocou um apagão de proporções assustadoras. Mais de 2 milhões de endereços ficaram sem energia elétrica. A distribuição no estado foi privatizada em 1998, com início do processo durante o governo de Mário Covas. Mas no relatório anual de 2022, segundo a ANEEL, essa concessionária estava entre as piores em qualidade dos serviços, confiança do consumidor e valor da conta. Portanto, muito antes deste desastre natural, a sua performance não era nada do que se espera das privatizações.
A responsabilidade de ressarcir os prejuízos do consumidor é exclusiva da Enel, independentemente das causas que provocaram a suspensão do fornecimento da energia elétrica. Por isso o prefeito, o governador e todos que se sentiram prejudicados exigem providências dessa prestadora de serviços. "A Enel Distribuição São Paulo informa que resta normalizar o fornecimento de energia para cerca de 30.200 clientes que foram impactados pelo vendaval na última sexta-feira, o que representa 1,43% do total de consumidores afetados", disse 4 dias depois.
Como o desgaste político é muito significativo, o prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio de Freitas, um privatista convicto, mostraram posições divergentes. Enquanto o prefeito declarou que vai entrar na Justiça contra a Enel, o governador evitou culpar a empresa, defendendo a necessidade de dar espaço ao capital privado no país. Mas quem se sente prejudicado pela inoperância da concessionária apoia a passividade de um gestor nesses momentos? Ou a atitude do prefeito vai ao encontro dos direitos do usuário desse serviço?
Infelizmente os atingidos e diretamente prejudicados devem contabilizar os prejuízos e depois exigir o ressarcimento da Enel. A mídia informou a situação dos estabelecimentos comerciais que perderam gêneros alimentícios por falta de refrigeração, os prestadores de serviços que deixaram de faturar. Segundo a estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), o comércio e os serviços já perderam cerca de R$1,3 bilhões nos dias sem energia elétrica. Quem vai repor esse valor?
Uma declaração que provocou estranheza no consumidor foi a declaração do prefeito Ricardo Nunes. Ele disse numa entrevista coletiva, na última sexta-feira (06/11/23) que há uma proposta de cobrar uma taxa de melhoria no fornecimento de energia na cidade para o enterramento da rede elétrica. No dia seguinte, em entrevista à GloboNews, ele afirmou que “em hipótese alguma vai ter taxa”, que isso foi tirado do contexto na sua fala. Quem assistiu às duas entrevistas deve ter ficado zonzo, não entendendo absolutamente nada sobre o que ele quis dizer.
Por outro lado, o governador privatista convicto, Tarcísio Freitas, quer apressar a privatização da Sabesp, a fornecedora de água no estado. Seu argumento para convencer os desconfiados é que a modelagem a ser usada é muito diferente do que aplicaram na energia elétrica porque vai usar as lições aprendidas tipo esse apagão. O risco, portanto, é zero. Será que os que ficaram sem água, não faz muito tempo, esqueceram que até o volume morto usado foi insuficiente para atender a população? Mas se até o gato escaldado perdeu o medo da água...
Quem gosta de usar o humor para amenizar as adversidades da vida, pode usar a situação gerada pelo apagão que ocorreu em São Paulo. Juntando a certeza de que todo serviço de primeira necessidade deve ser realizado pela iniciativa privada – a empresa pública já provou ser incompetente -, uma vez que qualidade, preço justo e transparência é a sua missão... Como imaginar que tanta eficácia parou a cidade que nunca parava? Depois de 7 dias de incertezas no restabelecimento da energia, o que a competente concessionária garantiu aos seus clientes?
A sorte é que somos insistentes, não desistimos dos nossos sonhos, acreditamos que Deus é brasileiro e nada nos abala facilmente. Daí que tudo que acontece de ruim é para nos fortalecer, aumentar a resistência psicológica e a espessura da couraça que nos protege contra as ameaças externas. Por isso dizem que o brasileiro devia ser estudado. O nosso lema de luta sempre será “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. Que nos desculpem os adeptos do chororô e do mimimi, mas a vida deve seguir em frente. Medo de um apagão e para os fracos.
J R Ichihara
09/11/2023
|