Capital político, sobrevivência e as oportunidades midiáticas
Por: JOSE ROBERTO TAKEO ICHIHARA
Sem a poderosa Bic na mão... Ainda tem importância no cenário mundial?
Os especialistas que comentam sobre a política partidária no Brasil, especialmente aquela voltada para as eleições dos cargos do Poder Executivo, sempre citam o capital político de quem já exerceu a presidência da República. Afinal, no regime presidencialista democrático, é inegável a influência do ocupante do cargo mais importante do Palácio do Planalto. Por isso que mal se encerram as eleições de um ano, as atenções se voltam para as próximas. Nessas horas, após a poeira sentar e a temperatura do calor da disputa baixar, entram em pauta as avaliações.
Portanto, ainda que faltando 3 anos para a próxima disputa, entremeada com as eleições para prefeitos e vereadores, os caciques dos partidos e os pretendentes aos cargos já costuram as alianças focando no longo prazo, mas baseados no que aconteceu recentemente. Daí que ouvimos as declarações sobre o capital político que um ex-prefeito, um ex-governador e um ex-presidente da República valem para quem eles apoiarem. No popular, é o que se chama fazer o sucessor indicado por eles. Já ouvimos que até um poste foi eleito por causa do seu antecessor.
Depois de uma disputa acirrada nas últimas eleições presidenciais encerradas no dia 30 de outubro de 2022, que deixou muitas sequelas até os dias atuais, os holofotes voltam-se para as prefeituras dos municípios. Por isso já se ouve que o candidato do ex-presidente Bolsonaro à prefeitura do Rio de Janeiro é o deputado Alexandre Ramage, segundo veiculados por Metrópoles, Carta Capital, Poder360 e Gazeta do Povo. O candidato do atual governador, segundo a mídia tradicional, não é o mesmo do ex-presidente. Quem tem mais capital político nessa escolha?
Mas será que alguém derrotado nas eleições, com toda a máquina do governo nas mãos, condenado pelo TSE como inelegível por 8 anos, além de investigado por outros crimes, tem muito a oferecer para os candidatos? Em política, tudo é possível. A situação atual do ex-presidente não é das melhores, mas o fanatismo que ele conseguiu implantar no país não pode ser ignorado. Basta ver que ainda hoje têm os que não se conformam com a sua derrota nas eleições, fazem oposição ferrenha contra o atual governo, pedindo o seu impeachment por qualquer motivo.
Os governadores que foram eleitos sob a bandeira levantada pelo ex-presidente Bolsonaro, apesar dos vários escândalos revelados e sob investigações, mantêm uma fidelidade publicamente declarada. Talvez porque saibam que o presidente Lula não costuma governar apenas para quem é seu aliado político, como deve ser o verdadeiro líder de um país. O exemplo disso é a ajuda financeira a Santa Catarina, governada por um bolsonarista de carteirinha, frente à catástrofe causada pelos desastres naturais. Mas a Democracia, na prática, tem de ser assim.
Sabe-se que o grande recurso na comunicação usado pelo ex-presidente Bolsonaro e seus seguidores são as redes sociais. À parte a suspeita da existência de um grupo especializado em divulgar fakes news, o método tem um alcance muito grande e já mostrou a eficácia quando o objetivo é difamar os adversários, considerados inimigos, destruir reputações e ganhar méritos por feitos não realizados. Mas os críticos do bolsonarismo também atuam no sentido de desmentir as postagens, muitas delas absurdas e sem qualquer fundamento. Haja fôlego para combater isso!
Infelizmente a necessidade de continuar sob os holofotes é tamanha que vemos situações em que os interesses pessoais são colocados acima de vidas humanas. A repatriação dos brasileiros que estão na Faixa de Gaza, aguardando a autorização para embarcar cruzando a fronteira e saindo pelo Egito, gerou críticas ao ex-presidente e ao embaixador de Israel no Brasil. Soube-se que o diplomata se reuniu com Bolsonaro e alguns parlamentares na Câmara de Deputados para tratar desse assunto. Por que escolher esse caminho e não a diplomacia oficial?
Quem conhece o comportamento do ex-presidente sobre assumir responsabilidades como gestor, estranhou a sua atitude sobre os brasileiros que estão na Faixa de Gaza. Ele quer receber os méritos pela repatriação? Nem parece o mesmo que foi indiferente com os compatriotas que estavam na China quando a Covid-19 surgiu e começou a ceifar vidas. Como também com os que aqui tiveram familiares levados pela pandemia. Ele achou correta a forma que os Estados Unidos deportaram acorrentados os brazucas ilegais. Mas por que ele agora estaria tão preocupado?
J R Ichihara
12/11/2023
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