O Fluir Da Eternidade - Parte I
Por: Lindberg R. Garcia
O Fluir da Eternidade / Parte I
Por Lindberg R Garcia
“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir incessantemente, tal é a lei” (Aforismo insculpido no dólmen de Allan Kardec no histórico Cemitério Père-Lachaise, em Paris)
“Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo” (Jesus no célebre diálogo com Nicodemos)
Há uma lei natural, que cada vez mais vem granjeando adeptos em todo o mundo. Dados do ano de 2006, apontam que na Europa Ocidental, 22% de seus habitantes a têm como uma realidade inconteste, enquanto que nos Estados Unidos da América, pesquisas apontam entre 22% e 25% de sua população creem em vidas passadas. No Brasil, em que a doutrina espírita tem forte penetração, cada vez mais aumenta o número de adeptos que creem na pluralidade das existências corpóreas. A reencarnação, de há muito não se fixa apenas nos cânones da crença religiosa, e passa a fazer parte dos ramos da ciência. Vários estudiosos têm dedicado a maior parte de suas vidas ao estudo do fenômeno palingenésico (do grego “palin, novo”, e gênese, gerar).
Pesquisas científicas, vêm demonstrando cada vez mais que a inexorabilidade do túmulo é apenas um portal em que o eu eviterno transpõe rumo ao seu destino cósmico. A mente psíquica, renasce em um novo corpo, onde a justiça divina lhe dá nova oportunidade de experimentar a vida, e por ela ser experimentado, na eterna busca do depuramento das imperfeições morais. Portanto, nada de incoerente na simbiose, “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir incessantemente, tal é a lei” (aforismo insculpido no dólmen de Allan Kardec no histórico Cemitério Père-Lachaise, em Paris).
De jornada em jornada, o eu imortal vai formando em seu psiquismo todas as experiências, boas e más auridas no campo da matéria. Portanto, a busca incessante de aperfeiçoamento moral do ser se assenta no hoje, a condicionar no amanhã, a sua vida futura. Allan Kardec, o codificador da doutrina espírita, no livro Obras Póstumas, nos coloca frente a frente com essa realidade ao enunciar: “Sem a vida futura, a moral não passa de mero constrangimento, de um código convencional, arbitrariamente imposto; nenhuma raiz teria ela no coração”. Depreende-se, portanto, que sem a vida futura, o progresso moral do espírito inexistiria, se perderia na unicidade da vida.
John Bagnell Bury, historiador e filósofo irlandês (16/10/1861 a 01/06/1927), coerentemente ao ensino ministrado por Kardec, assinala que, “A ideia de progresso é a síntese do passado e a profecia do futuro”. Bela e concisa definição, pois o princípio central da Lei Divina é o progresso do espírito, a sua evolução moral. E o espírito segue o seu destino na eternidade dos tempos, em que procura atender ao chamamento do Cristo de Deus no fluir da eternidade: “Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é vosso Pai celestial”. (Mateus, no Cap. V, v. 48).
Entretanto, alguns cépticos de mentes perturbadas, imersos no materialismo efêmero das paixões humanas, ainda negam esta verdade inconteste da lei natural, a que todos estamos submetidos. Acreditemos ou não, sofreremos a ação da lei divina; “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir incessantemente” (idem, idem, citação anterior). Muitos ainda perguntam, onde estão as provas das vidas sucessivas, em que o espírito, após o desiderato da morte, volta ao mundo em um novo corpo? A esse questionamento dividiremos o nosso estudo “O Fluir da Eternidade – Parte I e Parte II”.
Nesta primeira parte, abordaremos o seu aspecto histórico e bíblico, e na segunda, os estudos científicos a que estão submetidos esse tema de capital importância para a humanidade.
Cabe destacar que o preceito da reencarnação, a alternância do ser psíquico, ora no berço, ora no túmulo, ocupando novos corpos, não se trata de dogma criado pelo espiritismo. Esta é uma crença antiga, que vem desde os tempos bíblicos e se espalhou em várias partes do Mundo. A ideia de uma consciência que sobrevive ao fenômeno morte, remonta aos evos da história e surgiu em inúmeras culturas ao redor de nossa nave Terra. Tem-se notícia que a 2500 anos, as escrituras sagradas do hinduísmo, as upanischades, já admitia a reencarnação. Pitágoras, nascido 580 a.C., já afirmava que a alma era imortal e depois da morte do corpo, ela ocupava outro corpo, às vezes de um animal (metempsicose). Chamamos a atenção, para registrarmos o equívoco da tese do matemático e filósofo de Samos. Platão (427 – 347), filósofo grego, justificava pela tese metempsicosista, que a inteligência inata do homem decorria de sua reencarnação em qualquer ser vivo, animal ou vegetal.
Com o advento de O Livro dos Espíritos, em 1857, finalmente se corrigiu o crasso erro da tese metempsicosista, esclarecendo que o espírito humano não retrograda, só podendo reencarnar no gênero humano e jamais noutro. Dá-se que os animais não possuem livre-arbítrio moral, apenas uma e somente uma liberdade adstrita aos atos da vida material. O espírito não para, progride sempre, sem cessar, jamais retrocede no progresso alcançado. Vivemos ontem, vivemos hoje, viveremos amanhã. Tal é a lei palingenésica.
A própria Igreja Católica Apostólica Romana, nos primeiros séculos da era cristã, embora houvessem divergências interpretativas, não se opunha à reencarnação. Muitos Padres, seguidores de Orígenes de Alexandria, teólogo, filósofo neoplatônico, do século II, admitiam a reencarnação, que só foi repelida e condenada pelo Sínodo Permanente de Constantinopla, no ano de 543 da era cristã, pelo Papa Virgílio. Posteriormente, diversos concílios proscreveram a doutrina reencarnacionista, o último dos quais, o Vaticano II, já no século passado, no ano de 1965. A Igreja Católica Apostólica de Roma, criou assim, sua doutrina, com base em diversas decisões de seus concílios através dos séculos, que perdura até os dias atuais.
O princípio da pluralidade das existências, é confirmado insofismavelmente no diálogo contundente e esclarecedor de Jesus com Nicodemos, em João; 3:1 a 12, quando o Senador judeu recebeu o seguinte ensinamento: “Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”. Também merece destaque outro diálogo de Jesus com os discípulos, em Mateus, 17:10 a 13, quando da transfiguração, recomendou-lhes: “É certo que Elias há de vir e que restabelecerá todas as coisas. Mas eu vos declaro que Elias já veio, e eles não o conheceram e o fizeram sofrer como o entenderam. Do mesmo modo darão a morte ao filho do homem. Compreenderam então seus discípulos que era de João Batista que ele lhes falava. Pois que se João Batista fora Elias, houve a reencarnação do Espírito ou da alma de Elias no corpo de João Batista”.
Em uma outra passagem, Jesus ao chegar a região de Cesareia, pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do homem. E eles disseram: uns, João Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias; ou um dos profetas. E vós quem dizes que eu sou? E Simão Pedro, respondendo disse: Tu es o Cristo, o Filho de Deus vivo. Várias outras referências palingenésicas, o leitor irá encontrá-las na Bíblia, basta procurar.
E a Doutrina Espírita, como se posiciona diante do preceito da reencarnação? Bem, vejamos o que nos ensina o Espírito Verdade, na questão nº 171, em O Livro dos Espíritos, ao responder a inquirição do codificador Allan Kardec: “Em que se funda o dogma da reencarnação”? Bem, vejamos a resposta dada pelo Espírito Verdade. “Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se? Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão”.
Para não nos estendermos muito em nossa diegese, sugiro ao irmão leitor que leia O Livro Dos Espíritos, notadamente as questões relativas aos números: 166, e seus subitens, a, b e c, 167, 168, 169, 170, 222, 392, 595, 611, 612 e 613. Esse manancial de conhecimentos nos ajudará a conhecer e muito nos animar em nossa jornada infinita.
Encerrando a Parte I, gostaria de deixar registrado um ensinamento do médico, escritor, jornalista e espírita português, Antônio Joaquim Freire (20/07/1877 a 02/03/1958), no livro, Da Alma Humana, quando poeticamente nos fala da grande verdade das vidas sucessivas, no fluir da eternidade: “A amplitude da evolução humana é demasiadamente grande para caber nos estreitos limites que a ciência lhe demarcou, entre um berço e um túmulo, onde mal cabem um sorriso de esperança e uma lágrima de saudade”.
Graças a Deus.
A presente crônica faz parte do acervo do livro “Crônicas Espíritas”, editada pelo Clube de Autores.
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