Colônia, subdesenvolvido e emergente
Por: JOSE ROBERTO TAKEO ICHIHARA
Alguém acredita que é só educação?
Ao longo dos 500 anos de História o Brasil nunca chegou ao patamar de país desenvolvido. Tudo culpa do baixo nível de educação, insistem todos que se sentem indignados por tanto desperdício de recursos de uma maneira geral. Mas seria somente isso o que nos trava continuamente? Opiniões não faltam sobre o porquê de tanto atraso e decepção quanto ao desenvolvimento, quando se faz uma comparação com outros que estavam em situação econômica e social pior que a nossa em meados do século passado. Então... O que eles fizeram?
Muito se tem questionado a forma como o poder conduz a vida por aqui. Aí, como num filme rebobinado, vem sempre o batido argumento que fomos colonizados de forma desvantajosa em relação aos outros. Não falta também a tese que poucos imigrantes vieram para cá com o objetivo de desenvolver a região onde se estabeleceram. Mais ainda que a Coroa Portuguesa explorou todas as riquezas minerais, monopolizou o açúcar no mercado internacional e nada deixou aqui em troca disso tudo. Mas seria por isso que nunca deslanchamos? Ou tem algo mais?
Quem se interessa pelos embasamentos desapegados de política e sociologia, sem compromissos com outros interesses, sabe que a forma como o poder aqui se instalou só visava manter privilégios da realeza de Portugal. A concentração era ilimitada e muito maléfica para quem produzia, mas não tinha acesso à Corte. Não é à toa que fomos um dos últimos a abolir a escravidão. Ou seja, não havia a menor preocupação em desenvolver técnicas de produção, como já ocorria freneticamente na Europa, para oferecer produtos competitivos ao mundo. Portanto...
O que se vê hoje como esperança de que os rumos podem mudar para na direção que queremos? À parte as riquezas que foram surrupiadas pelos colonizadores, ainda somos um país com muitos recursos naturais, principalmente hídricos e solar. Como explicar que alguns países, sem tanta abundância como a nossa, alcançaram o estágio de desenvolvimento que buscamos há séculos? Provavelmente, além da falta de educação que tantos apontam, o estímulo à meritocracia desestimula e inibe muitos empreendedores – os que não são amigos do Rei!
Não se pode alegar, em pleno século XXI, que o nosso obstáculo é apenas o baixo nível de escolaridade dos trabalhadores. O sistema educacional público, a despeito de suas deficiências, tem oferecido oportunidades para quem não pode pagar uma escola particular. Se a qualidade ainda deixa a desejar, o que pode ser facilmente comprovado nos exames oficias de avaliação, é porque um adversário mais forte impede que se invista mais nesta atividade. Isso é a mais perfeita demonstração de que a Casa-Grande ainda impõe o regime de servidão à Senzala.
Diante de tanta seletividade, por parte dos “educados”, resta ao povo desamparado as migalhas que sobram dos abastados. E quando algum dirigente olha com mais respeito aos que não tem direito algum, logo a turma de privilegiados – iguais aos frequentadores da Corte – protesta que qualquer forma de ajuda é um estímulo à ociosidade. Pena que no balanço geral, a avaliação que mede a qualidade de vida da população, ficamos sempre entre o subdesenvolvido e o emergente. Há décadas oscilamos desta forma, nesses dois níveis. O que está errado?
Ultimamente os escândalos servem para questionar se, realmente, somente a educação acadêmica é a garantia para utilização dos recursos públicos corretamente. Fora algumas exceções, todos os envolvidos nos casos de corrupção possuem graduação superior. Ou seja, como imputar à baixa escolaridade do povo todos os péssimos resultados na condução do país? Como se o fato dos “educados” assaltarem os cofres públicos fosse culpa somente do cidadão comum, do simples eleitor. Será pelas mãos dessas pessoas que deixaremos de ser emergentes?
J R Ichihara
25/02/2016
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