Poderia chamar muita atenção, mas pouco se fala
Por: JOSE ROBERTO TAKEO ICHIHARA
Têm fortunas que nada acrescentam ao mundo
Os atos violentos que acontecem e atingem os inocentes em qualquer lugar do mundo, impondo uma situação humilhante, acende o espírito de solidariedade da população global. Nesses momentos não importam os motivos para a brutalidade e a violência, bastam as imagens exibidas pela mídia, em tempo real, para aumentar a indignação contra os absurdos cometidos. Também o sentimento de fraternidade é isento de qualquer viés ideológico, crença religiosa e regime político que cada um defende. Mas como a desumanidade pôde chegar a tal ponto?
Infelizmente o mundo ainda não aprendeu as lições deixadas pelas guerras, extermínios de povos e as conquistas através do poderio militar. Da mesma forma que os atentados urbanos, como já se tornaram frequentes no Rio de Janeiro, pacificamente absorvidos pelas autoridades acuadas diante do crime organizado. Talvez o que muitos aprenderam é que vale muito a pena usar os métodos violentos, e a intimidação, para atingir o poder sem qualquer resistência por parte da segurança pública. Isso fortalece muito o famoso jargão “tá tudo dominado” dos criminosos.
Mas um fato chama que chama a atenção não ganha visibilidade na mídia preocupada com o ganho de musculatura da violência mundial diante dos mais fracos. Alguém soube se a lucrativa indústria bélica, a mais beneficiada com as guerras, ofereceu qualquer ajuda aos desabrigados e retirantes? Da mesma forma, se o pujante agronegócio enviou uma parte irrisória da sua exuberante produção para os famintos da região da Faixa de Gaza? O que se ouviu foi a contribuição do execrável MST destinando produtos para os atingidos pela insegurança alimentar.
Lamentavelmente não se ouviu que algum figurão listado na lista dos bilionários destinou qualquer ajuda financeira para quem não tem água, energia elétrica, alimento, medicamentos e um local seguro longe de um bombardeio, que nada têm a ver com eles. Isso comprova que os dirigentes – até dos países ricos – estão se lixando para o povo. Falou-se que os britânicos têm de pagar do próprio bolso pela repatriação. Enquanto isso, o criticado presidente Lula, que não mediu esforço para trazer os brasileiros que lá estão, é criticado incansavelmente pelos patriotas.
Talvez os defensores fervorosos que tudo deve ser privado ainda não perceberam que isso têm lá as suas desvantagens. Quantas famílias que estavam na região dos bombardeios tinham condições de bancar as despesas para voltar ao Brasil? Mas alguns, até nesses momentos, não deixaram de lado o ódio e a intolerância e, num claro gesto de ingratidão, agradeceram à pessoa errada e ainda pediram o fora para quem fez tudo para resgatá-los. Por isso, muitos acreditam que o pior do Brasil é o brasileiro. Outros dizem que somos um ótimo caso para estudo.
Adotando a costumeira “vida que segue”, mas não deixando de tirar proveito das lições que o momento pode oferecer, certas páginas não podem ser simplesmente viradas sem que as manchas sejam identificadas. O que se ouviu de desinformação dá um capítulo à parte. No afã de exigir que o nosso país escolhesse um lado para apoiar, colocando os valores cristãos acima de tudo, muitos falaram o que não deviam. Os contra o aborto, a descriminalização de certas drogas, a união homossexual e as paradas LGBT, mas apoiam Israel, não sabem do que falam. Por que?
Um dos problemas das pessoas que se acham muito esclarecidas e gostam de opinar sobre qualquer assunto, é ignorar que todos podem pesquisar e questionar as suas afirmações. Os meios de consulta estão disponíveis para quem quiser informações sobre qualquer tema. Portanto, a tentativa de doutrinar e influenciar através das redes sociais pode ser facilmente desmascarada, se o autor da postagem desconsiderar isso. Daí que o fake news só ganha seguidores fieis se o fanatismo estiver acima da vontade de procurar saber a verdade. Então...
Quem critica a neutralidade do Brasil na questão entre Israel e a Palestina precisa lembrar que a diplomacia do nosso país sempre buscou o entendimento para resolver os conflitos alheios. Mas se a insistência estiver acima dos interesses nacionais... Qual seria o ganho brasileiro em declarar um apoio abertamente? Até onde se sabe não temos problemas de ocupação territorial com os vizinhos do continente, muito menos com as opções políticas, ideológicas e religiosas deles. Mas sabemos o que o slogan “Deus, Pátria e Família” nos deixou como legado. Portanto...
J R Ichihara
31/10/2023
|