Para a mídia o pau que bate em Chico é diferente do que bate em Francisco?

Costuma-se dizer que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. O ditado popular é uma forma de valorizar que a insistência – ou um motivo para não desistir – ainda é uma forma de atingir os seus objetivos. Portanto, a brecha que a oposição procurou insistentemente contra o ministro da Justiça Flávio Dino surgiu e ganhou as manchetes da grande mídia. Uma foto que circulou em que o ministro tem ao seu lado a Luciane Barbosa, que passou a ser chamada de Dama do Tráfico, foi amplamente explorada e associada como uma proximidade entre eles.
Quem acompanha os noticiários e as perguntas e respostas feitas ao ministro quando convocado ao Congresso, viu que há uma clara intenção em mostrar que há uma familiaridade entre ele e o narcotráfico. Por isso, as inúmeras perguntas sobre a sua visita ao Complexo da Maré, uma região sabidamente dominada por essa facção criminosa. Como nenhuma pergunta ficou sem resposta, apesar de não agradar a oposição, a obsessão por encontrar algum deslize dele virou uma espécie de sonho de consumo dos bolsonaristas. Encontraram o que buscavam?
O registro fotográfico virou um troféu da oposição. Por causa disso, a suposta indicação de Flávio Dino para o STF ganhou arranhões e manchas difíceis de reparar. Os apoiadores da atual gestão tentaram mostrar que os artigos que denunciaram a visita da Dama do Tráfico com o ministro, usando a linha do tempo em moda atualmente, em nada mudou a opinião pública. Um jornalista, através do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), mostrou que, na época da reunião, esta pessoa havia sido inocentada, mas a matéria não cita isso. Qual seria a intenção da publicação?
Na mesma época, a mesma Dama do Tráfico também se reuniu com o presidente da Câmara de Deputados e com o ministro do STF Luís Roberto Barroso. Por que apenas a reunião com o ministro Flávio Dino ganhou notoriedade? Quem não vê a seletividade neste caso precisa resgatar a imparcialidade que a nossa sociedade tanto valoriza nos julgamentos populares, via mídia. O episódio ganhou mais musculatura porque soube-se que o deslocamento dela do Amazonas para Brasília, como representante de uma ONG, foi bancada pelos cofres públicos.
Mas a associação dela com o narcotráfico – daí o título de Dama do Tráfico – é porque o seu marido Clemilson dos Santos, o Tio Patinhas, preso em 2022, é um dos membros do Comando Vermelho (CV). Na época da reunião, ela pertencia a ONG Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), mas a maioria entendeu que isso significa uma infiltração do crime organizado na estrutura do governo. Portanto, o PT ganhou uma pedra no sapato com a presença da Luciane Barbosa no Ministério da Justiça. Então... Haja vidraça para isso!
Infelizmente o atual governo vai ter de administrar mais essa crise gerada, exatamente pelo ministro que mais se destacava nesta gestão. Na política tudo acontece, e a oposição é uma necessidade para a sobrevivência da Democracia. A opinião pública tem o seu peso na avaliação, independentemente dos índices sociais e econômicos comprovados. Quem esperava uma chuva de rosas para o presidente Lula e sua equipe não aprendeu nada com a história nacional recente. Vida que segue!
Um fato que chama a atenção dos patriotas preocupados com a aproximação do abismo por causa da economia, a prioridade zero de qualquer gestão pública, é que isso perdeu o posto na urgência de soluções de problemas. Os representantes do povo querem saber da conivência deste governo com o crime organizado, dos temas da redação do ENEM e do apoio ao candidato da esquerda à presidência da República na Argentina. Curioso é que os vídeos exaltando milicianos são de antipetistas fervorosos.
Aos que sempre atuaram numa oposição que questiona os atos do governo, mas agora sentem na pele o que isso pode gerar como repercussão, fica a lição aprendida. Ninguém é inquestionável. Daí que tudo que diz respeito ao interesse público deve ser esclarecido, se o pedido obedecer aos princípios legais. Denunciar por não gostar do adversário é infantilidade, mas se há um embasamento e a exigência é feita com respeito... Por que se eximir de responsabilidades? Mas a mídia tem Chico e Francisco?

J R Ichihara
18/11/2023