A PÁSCOA, além de ser considerada uma das principais
festas cristãs, sempre representou a passagem de um tempo de trevas
para um tempo de luz. Na verdade, (peschad), em grego (paskha)
e no latim (pache), ou seja, passagem, é a verdadeira
tradução para o vocábulo “páscoa”, em nossa língua. Um dos
significados seria a transição anunciada pelo equinócio da
primavera do hemisfério norte, que ocorre no dia 21 de março, e na do sul,
em 23 de setembro. Para que entendamos o significado da Páscoa cristã,
é preciso que voltemos no tempo até a Idade Média, antes de partirmos para
“o começo de tudo”... Os antigos povos pagãos da Europa,
homenageavam Ostera – Esther, em inglês, que quer dizer Páscoa.
Ostera (ou Ostara) é a deusa da primavera, que segura um ovo
enquanto observa um coelho, símbolo da fertilidade, a pular alegremente em
redor de seus pés nús. A deusa e o ovo, portanto, são símbolos da chegada
de uma nova vida. Na mitologia grega, Ostara equivale a
Persephone e na mitologia romana, a Ceres.
Tais povos pagãos comemoravam a chegada da primavera
decorando ovos, costume que surgiu na Inglaterra, durante o século X, no
reinado de Eduardo I (900-924), que tinha o hábito de banhar ovos em ouro
para ofertá-los aos seus amigos e aliados. Pintar ovos a mão também é uma
tradição que acompanha os ucranianos em quase toda a sua história.r Para
eles, receber ovos pintados traz boa sorte, fertilidade, amor e fortuna.
Geralmente esses ovos são de galinha, ganso ou codorna e requerem um
trabalho artesanal minucioso.
Em hebraico, temos o “pessach”, a chamada “Páscoa
Judaica”, que se originou quando os hebreus, há mais ou menos três mil
anos, celebraram o êxodo e a libertação do seu povo pelas mãos de Moisés,
após quatrocentos anos de cativeiro no Egito. Comemoravam, assim, a
passagem da escravidão para a libertação: saíram do solo egípcio,
ficando quarenta anos no deserto até chegar à região da Palestina, a terra
prometida, atualmente chamada Israel. A comemoração inclui, entre outras
coisas, uma refeição onde se come o Cordeiro Pascal, o pão àzimo (sem
fermento), também conhecido como ”matzá”, ervas amargas e
vinho tinto. A festa da Páscoa passou a ser cristã após a última ceia
de Jesus com os apóstolos, na quinta-feira santa. Os fiéis cristãos
celebram a ressureição de Cristo e sua ascenção ao céu. As imagens
deste momento são a morte de Jesus na cruz e a ressurreição. A celebração
completa tem início na quarta-feira de cinzas e se conclui no domingo de
Páscoa; é o período chamado de Quaresma.
A data cristã foi fixada durante o Concílio de Nicea,
em 325 d.C, como sendo “o primeiro domingo após a primeira lua cheia
que ocorre após ou no equinócio da primavera boreal, adotada como sendo o
dia 21 de março”.
A ORIGEM DA SIMBOLOGIA DO OVO
O ovo é um símbolo que se explica por si mesmo.
Contém o germe, o fruto da vida que representa o nascimento, o
renascimento, a renovação e a criação cíclica. De um modo simples,
podemos dizer que o ovo é o símbolo da vida.
Celtas, gregos, egípcios, fenícios, chineses e muitas
outras civilizações acreditavam que o mundo havia nascido de um ovo. Na
maioria das tradições, este “ovo cósmico” sempre aparece depois de
um período de cáos.
Na Índia, por exemplo, acredita-se que uma gansa de
nome Hamsa (um espírito considerado o “sopro divino”),
chocou o ovo cósmico na superfície de águas primordiais e, daí,
dividido em duas partes, o ovo deu origem ao céu e a terra. O céu seria
a parte leve do ovo, a clara, e a terra, a mais densa, ou seja, a gema.
Para os chineses, o mito do ovo cósmico também faz parte das
tradições. Antes do surgimento do mundo, quando tudo ainda era cáos, um
ovo semelhante ao de galinha se abriu e, de seus elementos pesados, surgiu
a terra (Yin) e, da parte leve e pura, nasceu o céu (Yan).
Também para os celtas o ovo cósmico é comparado a um ovo de
serpente: assim, a gema representaria o globo terrestre;
a clara, o firmamento e a atmosfera; a casca, a esfera celeste e os
astros.
Para os cristãos, o ovo surge como uma renovação
periódica da natureza. Algo como o mito da criação cíclica. Em
muitos países europeus, ainda hoje há a crença de que comer ovos no
domingo de Páscoa traz saúde e sorte por todo o resto do ano. Há quem
acredite que um ovo posto numa sexta-feira Santa afasta as doenças...
POR QUE OVOS DE CHOCOLATE E COELHO?
Ambos foram trazidos de antigos rituais pagãos de
fertilidade da primavera, que aconteciam na Europa e no Oriente Médio e
eram relacionados à ressurreição. O coelho da Páscoa representa o
renascimento da vida. No Egito antigo, o símbolo da fertilidade
era a lebre. Já na Europa, é também o coelho que representa o
renascimento da vida pois a Páscoa européia coincide com com o início
da primavera. Assim que a neve se derrete, a vida ressurge e os
coelhos deixam suas tocas após a hibernação do inverno. Do outro lado do
mundo, com a chegada da primavera, os chineses costumavam
presentear seus amigos com ovos que eram embrulhados em cascas de
cebola e cozidos com beterraba. Quando retirados do fogo, eles
apresentavam desenhos mosqueados na casca.
A partir do século XIII, a igreja católica adotou o
ovo como símbolo oficial da Páscoa. Quanto ao fato de serem de
chocolate, a explicação mais provável tem a ver com o início da produção
de chocolate em larga escala, pela indústria, no ano de 1828. Interessante
destacarmos que como os primeiros cristãos celebravam a ressurreição de
Jesus ao mesmo tempo em que os judeus comemoravam sua Páscoa, vários
costumes e símbolos da festa judaica foram incorporados às tradições
cristãs. O cordeiro é um exemplo. Presente na Páscoa dos judeus,
ele simboliza, para os cristãos o próprio Jesus Cristo, que foi
crucificado para pagar os pecados dos homens. Alguns costumes da Páscoa,
entretanto, permanecem apenas no Oriente. Na Rússia, por exemplo, há
cristãos que se cumprimentam no dia da Páscoa com a saudação: “Cristo
ressuscitou”; e a resposta: “Ressuscitou realmente”.
No sábado de Aleluia, os países ibéricos e suas colônias, têm o
hábito de fazer a chamada “malhação de Judas”, o apóstolo que traiu
Jesus. Apesar de ser uma tradição já ultrapassada e condenada pela igreja
católica, também algumas cidades brasileiras ainda a praticam.
O
SIGNIFICADO DA PÁSCOA
A palavra Páscoa vem do hebraico, Pessach que, conforme
já foi dito, significa “passagem”. Os antigos hebreus foram os
primeiros a comemorar a Páscoa. Para eles, historicamente, ele celebra
a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito. Livres, passaram a
formar um povo com uma religião monoteísta. É com o sentido de libertação
que, até hoje, os judeus celebram esta festa. Os cristãos também a
comemoram. No entanto, sua origem é diferente no cristianismo apesar de
ele ter se originado numa Páscoa judaica. Nela, celebra-se a ressurreição
de Jesus Cristo que, segundo a Bíblia, ocorreu três dias depois da
crucificação, durante a Páscoa judaica. É a principal festa do ano
litúrgico cristão e, provavelmente, uma das mais antigas, pois surgiu
no início do cristianismo. Ainda que todos os domingos do ano sejam
destinados, pelas igrejas cristãs no mundo à celebração da ressurreição de
Cristo (o que na igreja católica é feito através da celebração da
eucaristia, nas missas), no domingo de Páscoa esse acontecimento ganha
um destaque festivo especial.
A Páscoa é uma data móvel que acontece
anualmente entre os dias 22 de março e 25 de abril. Como no hemisfério
Norte esse período coincide com a chegada da primavera, o Pessach também
é a festa do início da colheita dos cereais e da chegada da nova estação.
É comemorada no primeiro domingo após a lua cheia do equinócio de março,
ponto da órbita da terra em que se registra uma igual duração do dia e da
noite. Mas há um modo bem mais prático de sabermos quando é domingo de
Páscoa: basta contarmos quarenta e seis dias a partir da Quarta-feira
de Cinzas. A Páscoa cristã é antecedida pela quaresma, período
que dura quarenta dias entre a Quarta-feira de Cinzas e o Domingo de
Ramos, que ocorre uma semana antes da Páscoa. Os católicos destinavam a
Quaresma para fazer penitência, como o jejum, com o objetivo da
purificação da alma e de obter o perdão divino pelos erros e faltas
cometidos. O que era uma tradição seguida à risca, hoje tornou-se um
esquecimento, o que não impediu de ainda existirem uns poucos católicos
que a respeitem e cumpram, mas sem exageros ou fanatismos.
A TRADIÇÃO DOS OVOS DE PÁSCOA
A tradição dos ovos decorados chegou à Europa na Idade
Média, levada pelos cruzados. Esta prática – pintar ovos para os festivais
da primavera – era comum entre egípcios, persas, fenícios, gregos e
romanos. Na Polônia e na Ucrânia essa tradição sempre foi levada muito a
sério. Há ovos tão bem elaborados que nem podemos considerar mais apenas
um ovo, e sim, verdadeiras jóias! Foram criados sob encomenda por um
joalheiro russo, Carl Fabergé, que os confeccionou em ouro, prata e
pedras preciosas. Estes, quando abertos, revelam pequenas imagens de
pessoas, animais, plantas ou prédios e eram dados como presente pelo
imperador russo.
CÍRIO PASCAL
O Círio Pascal é uma grande vela cuidadosamente
decorada com vários símbolos e sinais que, para os católicos, nas
celebrações eucarísticas, representa a figura de Jesus Cristo
Ressuscitado. A chama do Círio, acesa, simboliza a luz de Cristo que
um dia afirmou a seus seguidores: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue
não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12b). Lembra
também a coluna de fogo – mencionada na Bíblia, no livro do Êxodo 13,21 –
que precedia o povo hebreu na caminhada para a libertação da escravidão do
Egito, através do deserto, rumo à Terra Prometida. O Círio tem gravado
em sua haste uma grande cruz. Nas extremidades superior e inferior, em
sentido vertical, estão escritas as letras gregas Alfa e Ômega (primeira e
última letras do alfabeto grego) simbolizando a eternidade de Jesus
Cristo, o princípio e o fim, o ontem e o hoje, pois para ele são
dedicados o tempo, a eternidade, a glória e o poder pelos séculos sem
fim representados pelos algarimos do ano em curso e gravados nos
quatro ângulos da cruz. Sobre a cruz são colocados cinco grãos de
incenso, simbolizando as chagas de Jesus, causadas por sua crucifixão.
Acende-se o Círio Pascal na missa do Sábado de Aleluia, ou Sábado Santo,
que precede o Domingo de Páscoa, e em todas as missas dominicais
celebradas até o Domingo de Pentecostes.
TRIGO E UVA
Eram os alimentos básicos nas refeições judaicas.
Simbolizam também o trabalho cooperativo dos homens: um semeia, outro
colhe, outro mói, outro coze. Porém, o maior significado destes
símbolos, para os cristãos, é decorrente do pão e do vinho que, usados por
Jesus em sua última ceia com os seus discípulos, foram por ele
assumidos como seu Corpo e Sangue, o que transformou estes alimentos
no sacramento da eucaristia: “Tomai e comei, isto é meu corpo”.
Depois, tomou um cálice e, dando graças, deu a eles dizendo:” Bebei
dele todos, pois isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, que é
derramado por muitos para a remissão dos pecados”. Mt 26, 26-28
CORDEIRO PASCAL
Mais um símbolo forte, herdado do povo hebreu que, ao
sair do Egito, orientado por seu líder Moisés, recebeu de Deus a ordem de,
a cada ano, na lua cheia da primavera, fazer uma reflexão em família,
tendo como prato principal, o cordeiro, cujo sangue seria utilizado
para marcar os umbrais das portas de suas moradas e assim livrar seus
antepassados da morte, além de a carne lhes servir de sustento na longa
caminhada através do deserto. O Cordeiro para eles significava o “ Deus
que tirava o pecado do mundo”. Jô 1, 29.
Jesus posteriormente assumiria para si este sinal
identificando-se como o único e verdadeiro Cordeiro de Deus, que com seu
Sangue derramado na cruz libertaria a humanidade das conseqüências de
seus pecados, e pela Eucaristia se faria alimento espiritual para o povo
cristão, neste peregrinar de volta ao Pai.
CRISTÓS
Este é um dos mais antigos símbolos de Cristo, muito
usado pelas primeiras comunidades cristãs. Consistia nas duas primeiras
letras da palavra “CHRISTUS” (em grego, CRISTOS); entrelaçadas e cercadas
de uma grinalda de louros (Triunfo de Cristo)
PEIXE
Logo a pós a crucifixão de Jesus e nos primeiros séculos
do cristianismo, os cristãos sofreram violentas repressões por parte dos
sacerdotes judeus e das autoridades romanas. Nesta época de perseguições,
os cristãos não podiam falar publicamente o nome de Jesus, pois poderiam
ser presos e martirizados. Estrategicamente recorreram ao uso da palavra
“Peixe”
(ICTUS, em grego) pois cada letra desse vocábulo corresponde à
inicial da afirmativa: Jesus Christus Dei Filius Salvator (Jesus Cristo,
Filho de Deus Salvador). Em suas casas e nas roupas que usavam,
pintavam a figura de um peixe como sinal de sua profissão de fé em
Jesus Cristo. Depois de ressuscitado, em uma de suas aparições, Jesus
serviu-se de peixe e ofereceu-o aos Apóstolos. Este gesto, associado ao
milagre da multiplicação de pães e peixes que alimentou uma multidão de
pessoas, ocasionou a oportuna associação do peixe ao tempo Pascal.
Colaboração:
Miriam Panighel Carvalho
Texto extraído das minhas anotações do Curso Bíblico administrado
pelo Pe. Napoleão dos Anjos Fernandes.
Miriam Panighel Carvalho -
www.paralerepensar.com.br/miriampanighel